segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Análise do filme: Narradores de Javé

Atividade de Recuperação
Análise do filme: Narradores de Javé
Aplicação
26/08/09



            Este filme brasileiro narra à memória oral do povoado (fictício) de Javé e é ilustrado com muito humor. Humor este que pode ser visualizado através das cinco versões diferentes descritas pelos moradores de Javé na produção do livro.
            A história acontece no sertão nordestino (Bahia), mostrando as sutilezas e ironias do povo baiano que para não serem submersos pelas águas de uma represa, na construção de uma hidroelétrica, precisam que a cidade seja considerada patrimônio histórico a ser preservado. Decidem e precisam então, escrever um livro de valor científico, sobre as grandes histórias populares do Vale do Javé. Mas para ironia do destino, poucos sabem ler e escrever e, o único adulto alfabetizado, o mais esclarecido é o carteiro Antônio Biá (José Dumont).
            Porém, Antônio Biá, o escriba, foi expulso da cidade por inventar fofocas “florear” escritas sobre os moradores de Javé, na tentativa de aumentar a circulação de cartas e manter o funcionamento da agência de correio onde trabalha.
            Mais uma vez a ironia é constatada. O carteiro agora é necessário para a salvação. Escrever a história de Javé é salvá-la do afogamento e quem sabe sua oportunidade de se redimir. Será agora o responsável por reunir as histórias sobre a origem da cidadezinha e escrever um livro chamado pelos próprios moradores de “livro da salvação”.
            Biá tem capacidade de aumentar histórias e com isso, traz à tona o papel do historiador que interfere na própria história, resumindo, relatando, selecionando e conectando os personagens de forma compreensível. A importância do sujeito na História será as soluções e saídas para o sofrimento do sertão.
            O livro é então responsabilidade de Antônio, o carteiro. Mas ele com tudo, apresenta uma série de dificuldades. Juntar as diversas versões de uma mesma história não será nada fácil ao escriba.
Nesse momento, percebemos a diversidade da história, já que é passada de geração em geração. Uma das histórias apresentadas pelo povo ao Biá, tem cinco versões diferentes, onde percebe-se as memórias incompatíveis, desafiando o escritor a resumir os relatos em uma única e possível verdade.
As alterações dos heróis são perceptíveis na sutileza de seus narradores orais e humorísticas na colocação de igualdade de gêneros e raças. Na primeira, a grande heroína é Maria Dina, relatada por uma mulher. Já a versão de um morador negro, o herói também é negro e, além disso, usa o dialeto africano para narrar o fato ao carteiro, aqui fazendo o papel importante de escriba.
Mas o talvez temido fim acontece. Biá entrega o livro em branco para a população. Logo, é acuado e cobrado por todos no meio da rua. Sai aos berros andando de costas, parecendo um recuo e não uma fuga, talvez na tentativa de olhar o passado a ser “destruído”, assim, afogará a memória, a cultura local e os antepassados já que foram tão cruéis com ele. Ou ainda, o tão esperado progresso, transforma o sertão em mar a partir da construção de uma hidrelétrica. É possível ainda perceber neste filme o quanto é marcante o presente, o passado e o futuro na constituição da história.
Com tudo isso, o que mais me deixou intrigada foi o fim do filme. Sabemos que os contos populares passando de geração para geração, perdem aos poucos sua veracidade. E a história do Vale do Javé é contada por Zaqueu e não escrita por Biá, na tentativa de distrair um viajante num bar a beira de um rio. Zequeu não estava presente no povoado. Será que essa história também é uma versão fruto de outras versões?

           
           

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